domingo, 19 de dezembro de 2010

Se um dia a chuva parar…

Eu não sei do homem perfeito, do romance ideal e nunca vivi aqueles velhos bons tempos. Nunca senti a calmaria do horizonte e jamais acreditei em sentimentos sublimes. O que eu sei do amor é que ele é uma tempestade. É uma chuva ardida, que queima e esgota.
É certo que, as vezes a chuva amansa, vira água fina e doce e, com ela molhando de leve os sonhos, passeamos vendo as casas antigas e as árvores maiores do mundo. Esqueço da minha minúscula capa de plástico. Esqueço o medo dos raios e dos trovões.
Mas a chuva nunca cessa. Pode estar um sol de rachar, um céu azul turquesa de lindo, o tempo mais seco do que nunca, e a tempestade sempre estará lá. Inundando meu copo de água ou meu deserto inteiro.
Ao mesmo tempo em que fere, faz florescer uma plantinha nunca antes imaginada. E por ela eu fico debaixo da tempestade, com minha capa protetora que não me serve direito. E me encharco.
Deixo-me molhar para cultivar a plantinha, e não vejo a hora de saber se é mesmo um pezinho de frutas vermelhas, as deliciosas amoras, ou um pé mais masculino, de jambo, talvez.
E você também se molha inteiro, dos pés a cabeça, porque não consegue se proteger da chuva raiventa, que já vinha se anunciando. E pingando e cansado, sorri, dizendo que é linda nossa plantinha.
Eu reclamo que tem água demais nesse nosso amor, que minhas roupas estão encolhendo, que meu guarda-chuva tem furos e que nós dois estamos nos afundando. E você, resignado, aceita. Eu sei, eu sei, você diz. Mas e a nossa plantinha?
Ela tem três meses, um pequenino caule esverdeado, duas folhinhas: uma para cada lado. É para se equilibrar. É tão perfeita e suave a planta. É tão viva. Tem um coração forte e totalmente disposto a viver. Aguenta a tempestade junto com a gente. Ou até melhor.
Eu já entendi.  Nós dois. Nós três. Nós somos feitos de chuva. E no dia que ela parar de virar tempestade, nosso amor perde o rumo. Nosso amor acaba. Mas se a chuva nunca parar…

Nenhum comentário:

Postar um comentário