segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PICHAÇÃO SE APRENDE NAS SALAS DE AULA

Sentado na última carteira no fundo da sala de aula, longe da vista do professores que L.V.S, 19 anos, fez do branco do caderno o seu primeiro muro. Linhas que deviam conter fórmulas e números eram preenchidas por um alfabeto diferente do ensinado na sala de aula. Como ele mesmo qualifica, o alfabeto da rua.
Uma caligrafia que não poderia ser corrigida pela professora. Foi entre uma aula de matemático e outra de português que L.V.S com 12 anos começou a pichar, “Tem muita gente que começa a pichação na escola, primeiro você rabisca o caderno depois evolui vai para a carteira e da carteira pro beiral da lousa...”
Depois do beiral da lousa, L.V fez o seu primeiro muro de verdade, o da escola. “Eu e mais dois amigos pichamos toda a escola e foi aí que eu entrei pra pichação de vez.”.
A “vida” de pichador custou a ele três processos enquanto era menor, alguns muros para pintar e mais de R$ 1.500 em despesas com a justiça.
Para L.V.S que começou a pichar muros baixos o que fez continuar na pichação foi a altura. E a 13 andares acima do solo sua marca encara o centro da Cidade. Foram quase 50 metros escalados pelo lado de fora durante uma noite fria.
“É uma adrenalina muito forte. No quinto andar um dos tijolos cedeu e meu amigo quase caiu. A cidade vista de cima é diferente”, disse.
Realidade. A realidade vivida por L.V se espelha em outros pichadores como, P.H.L, de 18 anos, que também começou os seus primeiros traços na escola. Para ele o alfabeto da pichação são as letras da rua e são bem mais interessante do que as que se aprende na escola.
“Eu comecei a fazer algumas pichações e quando os caras que entendiam vinham me dar os parabéns eu ficava com vontade de fazer mais”.
A comunicação dos pichadores não é para quem tem o muro pichado entenda. É um grito dado para que todos saibam que eles passaram por ali.
Essa transgressão de regras surge para quem picha como uma forma de ser respeitado, mas para quem é vítima, a leitura pode ser diferente.
Vulto. São quatro horas da manhã, a atendente Elezilda Lopes deixa a janela um pouco aberta para que a noite seja mais fresca. Adormece. Como tem sono leve logo escuta algumas vozes com se viessem do pé da sua cama. Olha a quitinete e está só. Quando vira para a janela vê um vulto e as vozes ficam mais intensas. 
O apartamento de Elezilda fica no quarto andar, ela abre a janela vê um jovem andando no beiral. “Eu comecei a gritar, apavorada, ‘socorro, ladrão, chama a polícia”.
Os dois desceram os quatro andares como se tivessem sete vidas e sumiram na escuridão. Não eram ladrões, nada foi roubado do prédio, só a fachada que não era mais a mesma. Uma pichação tomou conta do topo do edifício de sete andares, já pichado duas vezes. 
“Eles deixam uma marca muito grande mesmo, mas é na gente, não consigo dormir tranquila”, conta Elezilda.
Há cerca de 6 anos, com o contato com os pichadores de São Paulo a pichação no interior do Brasil começou a crescer seguindo o ritmo da cidade que cada vez mais se verticaliza. Topos de prédios e torres se tornaram lugares de desejo por parte de pichadores.
Arte. Na paisagem das cidades onde a pichação é o alfabeto do caos urbano seu principal principio é a transgressão. Mas este movimento cria suas próprias leis. Normas que não estão escritas em lugar nenhum mas que qualquer pichador tem que respeitar. 
Entre elas nunca “atropelar”, que significa pichar em cima de outra pichação. Este seria o erro mais grave. Casos assim podem acabar até em morte. Outra regra não escrita entre os “rolês” (saídas noturnas para pichar) é a camaradagem que existe entre eles.
Para subir em lugares mais altos alguns jovens fazem de seu próprio corpo escadas para os amigos. E para aqueles que não conseguem nem com ajuda a subir em algum lugar o amigo faz a pichação para ele. O importante é mostrar que se passou por lá.

                                            matéria: Raquel Cunha / postado por Daniel Pereira

Um comentário:

  1. gostei sou pichado tenho 14 anos e mando poeta sou da quanque sequidores da lei do kapeta= SLK

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