Na contramão das expectativas do mercado financeiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou ontem que a queda do dólar frente ao real é “insignificante” e que não vê necessidade, “no momento”, de adoção de novas medidas cambiais.
Com um discurso menos alarmante do que o utilizado na reunião dos países do G20 quando defendeu o controle de capitais, Mantega disse que as medidas já adotadas pelo governo brasileiro para combater a guerra cambial estão dando certo e que agora é o momento de “avaliar” e deixar a taxa de câmbio se acomodar.
“Vamos observar. Também não é bom ficar mexendo toda hora no câmbio”, disse o ministro. Para ele, a cotação do dólar está se mantendo num patamar “razoável” e o real foi a moeda que menos se valorizou frente ao dólar.
Repercussão. As declarações do ministro, dadas no final da manhã, repercutiram negativamente no mercado financeiro.
Em reação, a cotação do dólar que já estava em queda rapidamente acentuou o movimento de baixa. É que o mercado em peso estava contando com medidas mais fortes do Brasil depois da reunião do G20, que aconteceu na semana passada em Seul na Coreia do Sul.
Medidas. A percepção dos analistas de que o governo lançaria mão de mais um arsenal de medidas aumentou depois que Mantega fez uma enfática defesa de controle de capital como arma para os países enfrentarem a guerra cambial. A expectativa do mercado era a de que as medidas seriam tomadas imediatamente. Por isso, a fala do ministro funcionou como um verdadeiro balde de água fria para o mercado, que havia se posicionado à espera das medidas.
Cauteloso, o ministro não descartou, porém, novas medidas cambiais no futuro. “Não vejo necessidade de novas medidas nesse momento, mas a qualquer momento sabe como é que é”, ponderou.
Segundo fontes, o agravamento da crise na Irlanda, que gerou incertezas no cenário internacional e fez a cotação do dólar subir para um patamar acima do R$ 1,70 (que funciona com uma espécie de piso informal para a taxa de câmbio) acabou ajudando o governo, dando mais tempo para avaliar as condições do mercado. Não foi à toa que o ministro ontem fez uma referência à cotação do dólar no Brasil estar sendo influenciada pela crise na Irlanda.
“Está num patamar razoável. É claro que influenciado pelo problema da Irlanda, problema europeu, mas de qualquer forma mostra que as medidas que temos tomado são eficazes e o real é uma das moedas que menos tem se valorizado em relação ao dólar, portanto, está dando certo”, disse.
Imposto. Mas se vier a precisar, o governo conta com algumas medidas para tentar reverter a valorização do real, entre elas a retomada da cobrança do Imposto de Renda sobre os ganhos dos investidores estrangeiros que aplicam em títulos públicos.
A cobrança do tributo foi suspensa em 2006, quando a alíquota em vigor era de 15%.
O uso do Fundo Soberano do Brasil (FSB) na compra de dólares no mercado de câmbio local é outra medida guardada na prateleira do Ministério da Fazenda. Para ampliar o poder de fogo do Fundo, no entanto, o governo terá que editar uma Medida Provisória (MP) permitido ao Tesouro emitir títulos para a carteira do FSB. Com isso, o volume de compra de moeda estrangeira pelo Fundo seria praticamente ilimitado, uma vez que tudo dependeria da disponibilidade do Tesouro em emitir novos papéis.
reportagem: Josélia Figorim / postado por Daniel Pereira
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