sábado, 27 de novembro de 2010

MORADORES DO RIO SOFREM NO EMBATE ENTRE POLÍCIA E TRÁFICO

A jovem grávida sobe o morro aos prantos, seu barraco onde mora acabara de ser esvaziado. Era uma nova ofensiva da polícia para consolidar o domínio da Vila Cruzeiro, maior bunker de traficantes cariocas.
O cenário visto é assustador. São mais de 40 motos queimadas. Carros importados incendiados. Os moradores que se arriscam a andar pelos becos reclamam da falta de água e energia elétrica. A favela ficou às escuras após o começo da guerra contra o tráfico de drogas.
A tensão aumenta a cada passo em direção ao topo do morro. Homens do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), armados até os dentes, ocupam cada viela do lugar. “Fica esperto, porque o tiro está comendo solto. Ninguém anda sozinho para não virar almoço”, grita um dos policiais aos repórteres que cobrem o caos no morro.
A corporação não está sozinha. Em frente a uma igreja evangélica, dois tanques de guerra da Marinha procuram criminosos. Os homens, no entanto, encontram apenas drogas. Cem quilos de cocaína vendidos pelo Comando Vermelho, que dominava a Vila Cruzeiro até o começo da semana.
Até um tucano engaiolado acaba nas mãos dos policiais. A ave estava na casa do chefe do tráfico na comunidade, acusado de ser o responsável pela queda de um helicóptero da polícia ano passado, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel.
“O bicho pegou ontem. Foi tiro para tudo quanto é lado. Moro aqui há quase 15 anos, mas não estou acostumado a isso. A sensação de medo é grande, porque moro com a minha família aqui”, afirmou Jairo Ezequiel dos Santos, 52 anos, que, com a cabeça na janela, acompanhava a ação policial.
Ele foi um dos poucos que aceitou falar com a reportagem. A maioria apenas balançava a cabeça negando qualquer tipo de conversa com jornalistas.
Quando a situação se acalmou na Vila Cruzeiro, chega a informação que a polícia tentaria invadir o Complexo do Alemão. Toda a movimentação agora rumava para o morro vizinho. Além das polícias Militar, Civil e Federal, homens do Exército fecharam os acessos ao local.
Às 16h30, começam os primeiros tiros. O povo, apavorado, começa a correr em busca de refúgio. Sem rumo. Um casal, amedrontado, usou o carro da reportagem para se proteger. A orientação, nem sempre, era feita por policiais. Pelo contrário.
Moradores também perdidos tentavam aconselhar os outros.
“Não corram por ali, porque vai dar caô”, berrava um carioca em meio à troca de tiros.

            reportagem: João Paulo Sardinha / postado por Daniel Pereira

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