quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CINEMA - TODA 4a FEIRA

Marque na sua agenda com muito destaque para não esquecer. De 22 setembro a 16 de outubro o Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, exibirá uma mostra de filmes de John Ford. Serão 30 produções, todas em película, algumas restauradas em cópias novas, que incluem clássicos absolutos, como Rastros de Ódio, Vinhas da Ira e O Homem que Matou o Facínora.
John Ford é um dos mais importantes diretores de cinema da história. Ao contrário do que possa parecer ao senso comum, ele não fez apenas westerns, mas foi, sem dúvida, neste gênero que ele deixou sua maior marca. Uma vez perguntaram a Orson Welles quais eram os três melhores diretores do mundo e ele respondeu sem pensar: "John Ford, John Ford e John Ford".
O diretor é cultuado por muitos críticos e amantes do cinema desde o início de sua carreira, em 1917, quando realizou o curta The Scrapper e seu primeiro longa, Straight Shooting, que se tornou um sucesso imediato. Em 1924, veio Cavalo de Ferro e ele demonstra sua competência e ousadia para filmar cenas de ação elaboradas, com a câmera em movimento. Ford segue dando os primeiros passos em direção a um estilo e forma muito próprios de conduzir e construir a narrativa em seus filmes. Mas é em 1939, que ele realiza o primeiro dos muitos grandes filmes que marcarão sua carreira como grande clássico: No Tempo das Diligências.
Com um roteiro relativamente simples o longa constrói um panorama da sociedade norte-americana da época através de arquétipos. Expõe, de forma inteligente e sutil, o conflito de valores de um país em transformação, as angústias de uma sociedade que se refazia de uma crise mundial. Questões contemporâneas à época, transpostas para o universo do faroeste.
A produção é sobre uma longa viagem durante a qual um grupo de pessoas habitará o exíguo espaço de uma carruagem. Estarão lado a lado (ou seria frente a frente?) um xerife apegado a seus códigos de justiça, um condutor covarde, um banqueiro corrupto, uma prostituta de coração bom, um médico alcoólatra, um jogador de cartas arrogante, uma dama da cidade grande e um condenado da justiça.
Como se não bastasse a inflamável composição do grupo, eles ainda terão de se ver com um ataque de índios e a busca por um lugar seguro. E é através do microcosmo composto pelos integrantes da carruagem, suas ideias ou ideais, suas atitudes, seus defeitos e qualidades e a maneira como reagem diante das situações, que Ford cria um interessante jogo político e social simbolizando seu tempo e suas transformações.
Ao lado de No Tempo das Diligências, outro filme figura como grande obra-prima do diretor: Rastros de Ódio, de 1956. Neste filme, Ford, que tinha como característica de suas obras a abordagem de uma diversidade de tipos, centra-se num único personagem e em sua busca incessante por vingança. Ethan Edwars, magnificamente interpretado por John Wayne, é um homem solitário, veterano de mais de uma guerra, que retorna para a casa do irmão cansado da vida de lutas inglórias e do sangue derramado.
Pouco depois de sua chegada, a casa é atacada por índios Comanches. Eles dizimam toda a família de Ethan e levam como escrava sua sobrinha de 9 anos. Ethan passa então a uma busca incessante pelos índios, numa caçada que se arrasta por anos. Seu ódio pelos índios é tão grande que em certa altura de sua perseguição, depois de anos, seu objetivo é encontrar a sobrinha apenas para matá-la, pois sabe que depois de tanto tempo entre os índios ela já se tornou uma deles.
Rastros de Ódio marca o cinema com a história de um homem, cujos valores e princípios, de tão sólidos e áridos, se confrontam com o mundo, com a sociedade. Carrega na expressão o peso de quem viu mais do que desejava ver e percebe, no fim, que não tem lugar entre os homens, que é só e seu único lar é a paisagem árida e imensa das pradarias, que seu destino é não ter destino.
Apesar de Rastros de Ódio e No Tempo das Diligências polarizarem-se como obras-primas do diretor, muitos outros filmes são indispensáveis para se conhecer e desfrutar a genialidade de John Ford. Obras que deram ao diretor quatro Oscars e o colocaram no hall dos melhores de todos os tempos. Assim, é indispensável conhecer alguns de seus principais títulos como Paixão de Fortes, Depois do Vendaval, Como Era Verde Meu Vale, Legião Invencível, Sangue de Heróis, O Delator, Caravana de Bravos e outros tantos.
John Ford dirigiu cerca de 120 filmes até 1964, quando realizou sua última produção, Crepúsculo de uma Raça, e se aposentou. Não fez apenas westerns e muitos de seus grandes filmes estão fora desse gênero. Mas certamente foi na construção do imaginário de um oeste selvagem, de leis próprias e valores rígidos defendidos por heróis nem sempre glamurosos e perfeitos, que deixou sua marca no cinema. Mais do que uma filmografia, deixou um legado, ajudou a fazer do gênero western o reflexo mitológico de uma época indistinta, feita do imaginário, que ele ajudou a criar com outros grandes diretores de sua época.
Nenhum com a mesma envergadura, porque ninguém filmava tão bem quanto Ford. Por isso é tão importante a mostra que o CCBB realizará, nos dando a sempre bem-vinda oportunidade de ver e rever a obra desse mestre indiscutível do cinema. Definitivamente, não dá pra perder.
Centro Cultural Bando do Brasil
Endereço: Rua Álvares  Penteado, 112 – Centro-São Paulo

                    matéria de Maciel Martins / postado por Daniel Pereira

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