sexta-feira, 15 de outubro de 2010

MUSICA - TODA SEXTA-FEIRA

VANESSA SABE O QUE FAZ.

A cantora e compositora Vanessa da Mata lança Bicicletas, bolos e outras alegrias, disco autoral com composições inéditas e participação especial de Gilberto Gil.
  Algumas discussões andam em alta no mundo da educação. Uma delas é o TDAHI, sigla para transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Pobre da criança que sofre desse mal e será constantemente incompreendida por pais e professores. Se você ou seu filho estão nesse grupo, não precisa se preocupar. Tudo tem dois lados. A cantora Vanessa da Mata, que interrompeu os estudos em função desse transtorno, tem outra visão do tema. “Era hiperativa e tinha distúrbio de atenção. Era considerada a menina burra da sala. Depois fui ver que as pessoas que sofriam de TDAHI são todas gênios, como o Goethe e o Ayrton Senna”, brinca.                                          Ela tem razão. Reza a lenda que Einstein, Beethoven e Leonardo da Vinci eram hiperativos. O nadador Michael Phelps disse ao New York Times que sofre de déficit de atenção. Gênio ou não, Vanessa da Mata consegue algo raro: encantar crítica e público em todos os discos que lança. E o principal motivo são as letras que escreve, com impressionante domínio das possibilidades da língua. “É algo menos racional, talvez um acesso ao inconsciente coletivo. Algo das pessoas sentirem isso e colocarem minha música na vida delas. Captam aquilo, levam para si e acham que aquela letra, de alguma forma, traduz o que está por aí e o que elas sentem”, explica. Para confirmar a tese, acaba de chegar às lojas o quinto disco de carreira de Vanessa da Mata, Bicicletas, bolos e outras alegrias, lançado pela Sony Music com o selo criado pela artista, o Jabuticaba.                                                                                             Mas não é só de sexto sentido que é feita a formação da cantora e compositora. Ela é uma voraz consumidora de poesia e literatura. “Leio muito, desde criança.” Ela conta ainda que acredita que nem sempre escolaridade tem a ver com a especialidade escolhida, mas não acha que por isso qualquer um que tenha dificuldades deva desistir da escola. “É complicado afirmar isso. Está cheio de gente que não gosta de estudar e uma hora consegue ultrapassar a barreira, concluir os estudos e não ter de levar a vida em um trabalho marginalizado”, aconselha.                                                                                                         Hoje, além da voz, shows e carisma, Vanessa vive do ofício de escrever, dos direitos autorais das canções que compôs. Gravada por Maria Bethânia e Ana Carolina, recebe encomendas de letras de artistas de outros estilos, como a sambista Alcione. Além disso, todas as músicas gravadas por ela são de autoria própria. A fábrica de escrever tem centenas de letras engavetadas. “Componho muito. Antes do meu primeiro disco, tinha umas 500 letras. Mas eu não fazia nada”, conta rindo. “Agora tem muitos shows e fica mais difícil fazer tantas canções. Às vezes fico até devendo umas encomendas”, confessa.                                                               ALTO ASTRAL
Em relação ao novo disco, a boa notícia para os fãs é que ela se mantém a mesma. O estilo não muda, o alto astral também não e as letras continuam dizendo o que a gente sente e nem sempre consegue falar, em 12 faixas inéditas. A novidade de Bicicletas, bolos e outras alegrias, quem define é a própria cantora: “Tem pitadas africanas, assuntos diferentes. Tem o meu estilo, que é meu e definido, mas está com cara nova em todos os aspectos, até na maneira de escrever. Consigo ter poesia, coisas mais rebuscadas e mais diretas. Há ritmos que não tinha utilizado antes, uma visita à década de 70, afrobeat e coisas de Mutantes. Usei várias texturas”, explica.                                                                                                                                   Essas visitas e outras influências também podem ser alguns dos segredos do sucesso de Vanessa da Mata. Em uma descrição faixa a faixa do disco, Vanessa lembra grandes nomes. Os Mutantes, em Bolsa de grife, faixa que fala de autoestima: “Sempre pensei que as grifes funcionam muitas vezes para autoafirmação”, explica. Em Te amo, cita a referência da música Primavera: “Ouvia essa música, a achava incrível. ‘Como Cassiano, na voz de Tim Maia, numa frase tão clichê, conseguia fazer aquela coisa linda?’, me perguntava”.
Outra fonte em que Vanessa sempre bebeu foi Roberto Carlos. “Meu pai ouvia o dia inteiro, era praticamente um fanático. E tinha uma verdadeira guerra entre as tias para saber quem tinha o disco novo primeiro e a coleção inteira”, lembra. “Roberto é uma aula, porque o cara está sempre cantando Emoções, há 20 anos e com a mesma emoção. Ele é um rei por isso. Não é encenação. Você vê que ele está realmente fazendo aquilo. Mesmo para fazer encenação precisa sentir”, diz. Ela lembra Roberto ao comentar outra música do novo trabalho, As palavras: “As palavras saem quase sem querer/ rezam por nós dois/ Tome conta do que vai dizer”.                                                                                                                                                          INSPIRAÇÃO
A última faixa do disco, Quando amanhecer, conta com participação especial de Gilberto Gil. “Ele é um mestre, uma figura amorosa e querida. Ele inventa coisas do nada, espreme uma pedra”, elogia a cantora. “O Gil tem sempre frases lindas e é um poeta musical. Quando ele pega o violão, parece que Deus está ali. Há uma religiosidade na qual todos os deuses se encontram. É uma iluminação mesmo. Entre quantas milhares de pessoas nasce um Gilberto Gil? A genialidade dele é muito impressionante.”                                                  A música é uma parceria entre os dois, de conversas e encontros na Bahia. “Ficava brincando com o violão e nasceram essas composições. Um dia ele me iluminou para fazer essa letra. Em algum lugar da inspiração acho que seduzi o fornecedor dele”, ri Vanessa, ao lembrar que “roubou” um pouco da fonte de Gil.
JABUTICABA
O novo selo de Vanessa da Mata, Jabuticaba, ainda está em fase de negociação. O primeiro trabalho lançado é justamente o CD Bicicletas, bolos e outras alegrias. Mas alguns planos já estão indo para o papel. “É meu selo, atrelado à Sony. O material vai ser distribuído e ter o marketing feito pela gravadora, mas o fonograma me pertence. Já tenho dois ou três nomes que quero lançar pelo Jabuticaba, mas primeiro preciso entender o trabalho e os direitos de cada um, para não frustrar ninguém. A ideia é lançar quem tem um trabalho legal, mas está sem meios”, propõe Vanessa.                  
                                                                      postado por Daniel Pereira

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