O asfalto-borracha, constituído de 20% de pó de pneu velho, começa a ser aplicado em larga escala em algumas estradas brasileiras.
A concessionária Ecovias está aplicando o uso do também chamado asfalto “ecológico” em 146 dos 191 quilômetros que está recapeando no sistema Anchieta-Imigrantes, em São Paulo. Entre as capitais, Curitiba (PR) foi a primeira a usar o novo tipo de asfalto, no começo deste ano. Até o fim deste mês, a prefeitura pretende ter sete quilômetros de ruas urbanas pavimentadas com esse produto. Em São Paulo, a prefeitura começou a usar o asfalto-borracha no mês passado e já tem quase quatro quilômetros de ruas asfaltadas.
As informações variam um pouco de uma fonte para outra, mas todas confirmam que, mesmo mais caro, o asfalto-borracha é mais resistente e compensa o custo elevado. O diretor-superintendente da Ecovias, João Lúcio Donnard, diz que o novo tipo de asfalto é 30% mais caro e 40% mais resistente do que o convencional. A diferença pode parecer pequena, mas ele garante que é vantajosa no longo prazo. Tanto que a Ecovias pretende chegar a 2010 com todo o sistema formado pelas rodovias Anchieta e Imigrantes pavimentado com o novo produto.
Há quem diga que a resistência e a durabilidade do asfalto emborrachado é ainda maior. O gerente de negócio da Greca Asfaltos, Paulo da Fonseca, diz que alguns estudos mostram que o pavimento com borracha pode durar até 5,5 vezes mais do que o asfalto comum. Já o superintendente da usina de asfalto da prefeitura de São Paulo, Valter Antônio da Rocha, calcula que a vida útil do novo asfalto é o dobro da do comum.
A mistura de borracha no asfalto acabou movimentando toda a cadeia de reciclagem de pneus. A Greca, por exemplo, que fornece o asfalto-borracha para a Ecovias, está com planos ambiciosos de expansão. Está duplicando a capacidade de suas três usinas de asfalto (no Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo) e construindo uma outra em Minas Gerais. Segundo Fonseca, o asfalto-borracha já representa 20% das vendas da empresa, que tem investido R$ 5 milhões.
A Midas Elastômeros do Brasil, que transforma os pneus velhos em pó de borracha e o revende para empresas como a Greca, nota que esse mercado não existia até há pouco tempo. Ela começou a vender pó de borracha para a fabricação de asfalto em 2004 e hoje esse segmento já representa 20% do total de vendas. O curioso é que a Midas cobra (R$ 200 a tonelada) para receber os pneus velhos, que depois serão transformados em pó. Parte da conta é paga pelos fabricantes de pneus, que são obrigados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) a recolhê-los e destruí-los de forma “ecologicamente adequada”.
Hoje, a maior parte dos pneus velhos ainda vai parar nas fábricas de cimento, servindo como fonte auxiliar de energia, pois o pneu tem alto índice de combustão. As cimenteiras também cobram para receber os pneus. Segundo o secretário-executivo da Associação Nacional da Indústria Pneumática (Anip), Walter Tegani, havia 11 milhões de pneus velhos, em 2004, do tipo que não podia mais ser reutilizado. Em 2005, a Anip gastou R$ 26 milhões para destruir os pneus velhos produzidos no país e atingiu a marca de 100 milhões de pneus destruídos de forma ambientalmente correta.
A Anip tem uma rede de 171 pontos de coleta de pneus usados espalhados pelo país, funcionando em parceria com as prefeituras. Como nem todo mundo passa num posto para deixar os pneus velhos, a maior parte deles é recolhida por empresas especializadas diretamente das lojas de serviços para carros. A rede de lojas DPaschoal tem uma empresa credenciada para recolher os pneus em suas lojas, a Mazola, de Valinhos (SP). A Mazola recolhe os resíduos sólidos da DPaschoal e ganha com a venda da sucata. Os pneus que não podem ser reutilizados a Mazola repassa para as fabricantes de cimento e para empresas que os transformam em pó de borracha, como a Midas. O proprietário da Mazola, Marcelo Alvarenga, mostra-se cético. Para ele, a transformação de pneu em pó de borracha usado no asfalto é muito cara e pode ser inviável financeiramente.
O asfalto-borracha mostra-se como um promissor destino para os pneus velhos – parte importante dos resíduos sólidos que poluem o ambiente. Estima-se que cada quilômetro pavimentado com asfalto-borracha consuma, em média, 500 pneus. Segundo Fonseca, da Greca, esse número pode chegar a mil.
Ele conta que a técnica do asfalto-borracha foi desenvolvida e patenteada nos Estados Unidos. Com o fim da patente, na década de 90, a técnica acabou espraiada para outros países. No Brasil, as primeiras experiências ocorreram na região Sul, em pequena escala. Agora, o Ceará tem dois projetos pilotos, numa parceria entre a Universidade Federal do Ceará e a BR Distribuidora para a pavimentação de dois trechos de 250 metros cada um com asfalto-borracha.
Fonte: Associação Brasileira dos Transportes de Carga – www.abtc.org.br
No site: www.setorreciclagem.com.br
postado por Daniel Pereira
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