Estamo vivemos um momento delicado para a imprensa política brasileira, seja ela grande, pequena ou média. As contradições entre os setores da mídia estão se aprofundando, a pequena mídia ganhando um grande terreno através da internet (blog), e a campanha eleitoral acirra os ânimos. Foi nesse contexto que a psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida do Estadão, onde mantinha coluna.
A pscanalista diz que foi censurada por causa de um texto publicado no último sábado, no qual ataca a classe média por desvalorizar o voto dos mais pobres. Para ela, as elites brasileiras, ao afirmarem que o brasileiro pobre vota no PT por causa do Bolsa Família e ao atacarem esse tipo de decisão, desrespeitam e desfazem da capacidade intelectual dos pobres. Por outro lado, o diretor de conteúdo do Grupo O Estado de S. Paulo, Ricardo Grandour, garante que Maria Rita Kehl não foi demitida, mas que há um “revezamento de colunistas”, e que o problema é que a psicanalista não estava cumprindo a proposta da coluna, ser “um divã para os leitores”.
Por causa do clima explicado no primeiro parágrafo deste texto, é necessário ter cuidado ao falar em “censura”. Se a coluna realmente se propunha a falar sobre psicanálise e a colunista modificou seu conteúdo para falar de política, se essa questão vinha sendo discutida internamente, a saída está justificada. O que causa estranheza é que a demissão tenha ocorrido justamente após o tal texto, que criticava a parte mais volumosa – e mais sensível a críticas – do público do Estadão.
No mínimo, o jornal escolheu o momento errado para a mudança. De uma forma ou de outra, a colunista foi demitida ao, de certa forma, defender o governo Lula, e criticar as elites brasileiras. Ainda que a coluna tenha sido publicada sem qualquer corte, a demissão é uma demonstração aos outros jornalistas e colaboradores do Estadão de que é preciso andar na linha, ou cair fora.
O argumento de Maria Rita Kehl de que um jornal que se diz censurado agora estaria censurando é interessante de ser levantado, ainda que talvez – e digo apenas que talvez – não se aplique a este caso específico. A dificuldade e a falta de esforço dessas empresas em aceitar a pluralidade de opiniões a de visões de mundo expressa-se constantemente, e deve ser lembrada. Não há, ali, imprensa livre e democrática, ao contrário do que essas empresas costumam alegar.
Devemos partir desses pontos para qualquer análise mais definitiva sobre o assunto. Apressar-se em gritar contra a “censura” é fazer o mesmo que a grande imprensa tem feito de forma irresponsável contra o governo Lula. Da mesma forma, calar-se frente ao ocorrido é baixar a guarda. O meio termo e o equilíbrio são os melhores caminhos para não chegarmos a conclusões precipitadas e cumprirmos nosso serviço de fiscais da política e da própria imprensa.
postado por Daniel Pereira
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